Delatores citam participação de Delúbio Soares, Vaccari e José Dirceu
SÃO PAULO - Dois tesoureiros do PT - Delúbio Soares e João Vaccari Neto - e o ex-ministro José Dirceu participaram, segundo delatores da Lava-Jato, da negociação envolvendo empréstimos ao pecuarista José Carlos Bumlai, nunca pagos, e a contratação da Schahin pela Petrobras como forma de compensação. A participação deles ocorreu em fases diferentes da negociação. No despacho em que determinou a prisão preventiva de Bumlai, o juiz Sérgio Moro afirmou que há prova do envolvimento de Bumlai em corrupção "mediante vantagem indevida concedida aos dirigentes da Petrobras e a ele mesmo, José Carlos Bumlai, e ao Partido dos Trabalhadores".
Três delatores da Lava-Jato relataram o acerto. O principal deles é Salim Schahin, sócio do Grupo Schahin, que teve seu acordo de delação premiada homologado na semana passada pela Justiça.
O delator disse que concedeu o empréstimo, porque ele "abriria oportunidade de retorno em negócios para o grupo junto ao governo", mas o valor não foi pago e o empréstimo foi sucessivamente renovado. Em 2005, Delúbio Soares e Marcos Valério teriam ido juntos ao banco para tratar da quitação, mas o problema não foi resolvido.
Pressionado pela fiscalização do Banco Central (BC) em função da inadimplência, o banco chegou a conceder três empréstimos a uma das empresas de Bumlai, a Agro Caieiras, para resolver o primeiro. Por fim, a dívida já alcançava R$ 21,267 milhões e foi transferida para a securitizadora do grupo, para evitar problemas com o BC.
Salim disse que, em 2006, decidiu procurar João Vaccari Neto, então tesoureiro do PT, para pedir "auxílio político" para que a Schahin fosse contratada para operar o navio sonda Vitória 10.000. Segundo ele, ficou acertado que a contratação quitaria o empréstimo dado a Bumlai. Para fazer a quitação, foi feito um contrato no qual Bumlai simulou ter repassado embriões de gado de elite para uma agropecuária de elite. Os embriões, segundo ele, não existiam de fato.
SUGESTÃO DE BAIANO
Como o negócio não saía, o lobista Fernando Baiano sugeriu a Bumlai que acionasse seus contatos políticos, como José Sérgio Gabrielli e o ex-presidente Lula.
Em seu depoimento, Salim Schahin diz ter ouvido de Vaccari que o presidente "estava a par do negócio". Disse ainda que Fernando Schahin, seu sobrinho e intermediário na negociação com Eduardo Musa, teria ouvido de Bumlai que o contrato com a Schahin "estava abençoado pelo então presidente Lula".
A vinculação do contrato da Petrobras com o empréstimo a Bumlai, que teria como destino o PT, já havia sido mencionada no Mensalão pelo publicitário Marcos Valério. Na Lava-Jato, foi detalhada pelo ex-gerente da Petrobras Eduardo Musa, que recebeu propina por intermediar o negócio, e por Baiano.
Baiano disse que foi procurado em 2006 por Bumlai, que lhe falou sobre o empréstimo tomado em seu nome e teria dito que a contratação da Schahim seria uma forma de "compensar o banco". Segundo ele, a Schahim não tinha experiência com operação de sondas em águas profundas e o negócio demorou pelo menos seis meses para ser aprovado pela diretoria executiva da Petrobras.
Baiano disse que chegou a se reunir na Petrobras com Bumlai e o então diretor da área Internacional da estatal para discutir o negócio. Disse ainda que Bumlai usou o nome do ex-presidente Lula, dizendo ter uma "relação de amizade muito forte" entre eles.
O lobista, entretanto, disse em um outro trecho de seu depoimento que ouviu de terceiros que o dinheiro do empréstimo com o banco Schahim seria para pagar uma chantagem que Lula estaria sofrendo. Nesse caso, Baiano afirmou que chegou a perguntar a Bumlai sobre essa história, mas que este negou e disse ser boato.
A Schahin foi contratada para operar a sonda Vitória 10.000 para a Petrobras, em 2009 - um negócio de US$ 1,6 bilhão.
SAQUES EM DINHEIRO
A quebra de sigilo das movimentações financeiras de Bumlai e de uma de suas empresas, a usina São Fernando, mostra saques em dinheiro de alto valor e transferências para a empresa de fachada Legend, que pertence a Adir Assad, condenado na Lava-Jato por lavagem de dinheiro.
Segundo o juiz Sérgio Moro, foram constatadas duas transferências da São Fernando Açúcar e Álcool, de Bumlai, cada uma de um milhão de reais, em julho e agosto de 2011, para a Legend, que também lavou recursos fraudulentos a dirigentes da Petrobras. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) identificou também quatorze saques em dinheiro, em quantias superiores a R$ 100 mil, das contas da usina entre 2010 e 2013.
Nas contas pessoais do pecuarista foram identificados 21 saques em espécie, num total de R$ 3.387.281,00.
O juiz Sérgio Moro afirma em seu despacho que "o fato em si não é crime" , mas lembra que "saques em espécie de quantias vultosas não são usuais e não raramente constituem expediente destinado a dificultar rastreamento bancário e facilitar a lavagem de dinheiro".
Agência O Globo
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