1,5 mil litros da bebida foram apreendidos no evento. Ela causa impotência, infertilidade e cegueira
Para poder vender o vinho químico, uma mistura de álcool etílico, açúcar e corante, os vendedores ambulantes estão se sofisticando cada vez mais. Em vez de levar a bebida que pode até matar em caixas de isopor, o que os deixa mais vulneráveis às apreensões da GCM (Guarda Civil Metropolitana), eles passaram a andar com pequenas mochilas, que são recarregadas assim que o produto acaba. Os camelôs agora deixam a maior parte da bebida em carros dentro de estacionamentos ou em veículos estacionados na rua. Eles também criaram um aparelho que os permite inserir um novo lacre em garrafas que já tenham sido abertas para que o cliente acredite que ela é nova.
A venda da bebida falsificada em doses e a utilização de tubetes (bisnagas de plástico de cerca de 60 centímetros de comprimento) para vender a bebida falsificada também dão mais mobilidade e aumentam o lucro do negócio ilegal. Na Virada Cultural deste ano, os camelôs ofereciam a bebida dizendo “Bebeu, bateu”. Foram apreendidos 1,5 mil litros de vinho químico, o que representa apenas 8,3% do total de 18 mil litros apreendidos em 2011. Em relação ao total de bebidas alcoólicas vendidas irregularmente na rua foram apreendidas em 2012 4.820 litros.
O prefeito Gilberto Kassab explicou redução no número de apreensões se deu pela “fiscalização eficiente, consciência da população e trabalho de divulgação da imprensa. A polícia e a GCM tentam justificar o resultado, sobretudo no que diz respeito ao vinho químico, por meio das novas táticas utilizadas para inibir a venda desse produto durante a Virada, utilizando sobretudo agentes com uniforme à paisana. “Muda a forma de combater esse tipo de delito. Quando a criminalidade muda a sua estratégia, o poder público e os órgãos de segurança têm de mudar também”, afirma o secretário municipal de Segurança Urbana, Edsom Ortega.
De acordo com Ortega, durante a Virada houve alguns casos em que GCMs uniformizados tentaram abordar camelôs que vendiam bebidas e eles saíram correndo com isopores cheios de garrafas apoiados sobre carrinhos de venda. “Para evitar acidentes, pedi para que as apreensões e a abordagem fossem realizadas somente pelos guardas à paisana.”
A Polícia Civil também adotou a mesma medida. “Tivemos uma equipe de cerca de 40 policiais trabalhando durante a madrugada da Virada Cultural, sendo 25 investigadores descaracterizados”, afirma Paulo Alberto Mendes, delegado assistente da Divisão de Saúde Pública da DPDC (Delegacia de de Polícia de Proteção ao Cidadão). A equipe da DPPC deteve 19 pessoas, sendo 15 homens e quatro mulheres. Com eles foram apreendidos cerca de 260 litros de vinho químico em garrafas e tubetes. Algumas bisnagas que continham a bebida falsificada estavam marcadas com a inscrição universitário drinks, com o objetivo de fazer a vítima crer que se trata de uma bebida industrializada.
Quem vende bebidas falsificadas pode ser condenado a até 8 anos de cadeia.
Bebida falsificada pode causar cegueira, arritmia e morte
Tomar vinho químico pode render muito mais do que uma grande ressaca no dia seguinte. De acordo com o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), esse tipo de bebida pode causar sequelas, como cegueira, cirrose, ataque cardíaco e arritmia, além de disfunções na tireoide e nas glândulas sexuais, convulsões e até a morte.
“Quanto maior o teor da bebida alcoólica, maior a dificuldade do corpo de metabolizar o álcool engerido. No Brasil, as bebidas mais fortes são as pingas e cachaças, com 50 graus. O absinto, que tem mais de 60 graus, quase já não é mais vendido. Essas bebidas feitas de forma caseira e sem procedência têm até 90% de teor alcoólico”, diz o psiquiatra.
E os problemas não param por aí. Isso porque, em alguns casos, o vinho químico é feito com base no metanol, que é utilizado como solvente químico e combustível de aviões. “O metanol é neurotóxico e destrói com rapidez os nervos ópticos”, diz Xavier. Outra complicação mais comum é a chamada amnésia alcoólica, onde a pessoa passa a ter comportamentos automáticos, uma das causas da violência doméstica.
DIÁRIO opina - O que dizem os números?
Restou uma dúvida a respeito dos números da Virada. A quantidade de vinho químico apreendida neste ano, 8% do total recolhido em 2011, permite duas intepretações: sucesso da repressão ou livre circulação. É importante que a Prefeitura faça este leitura sem contágio político, para que a saúde pública seja respeitada.
Onde age o vinho químico
CÉREBRO - provoca amnésia alcoólica
OLHOS - destroem os nervos ópticos
CORAÇÃO - causa arritmia e parada cardíaca
FÍGADO - causa cirrose hepática (degeneração das células do fígado)
TIREÓIDE - descontrole do processo hormonal do corpo
GLÂNDULAS SEXUAIS - pode causar impotência e infertilidade
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