quarta-feira, 27 de julho de 2011

“Cafezinho PM”: pobreza institucional ou polícia comunitária?



O serviço policial militar ostensivo dura no mínimo oito horas, existindo algumas escalas que chegam a vinte e quatro horas de atuação, período em que as carências fisiológicas humanas são inevitáveis. Uma delas é a necessidade de se alimentar, seja através dum simples lanche, seja almoçando ou jantando. Por isso, existem momentos em que as guarnições de policiais realizam paradas em restaurantes, padarias e lanchonetes para conseguirem se manter no serviço. Depois de comer, um impasse se impõe, pois muitos proprietários desses estabelecimentos oferecem descontos especiais, e mesmo a gratuidade da refeição. Como devemos entender esta postura?
Por um lado, pode-se interpretar que o comerciante pretende cativar os policiais, visando tornar constante aquela presença em seu comércio – seria uma forma indireta de ter segurança privada. A refeição oferecida seria uma moeda de troca?
Ou trata-se somente de um cidadão admirador do trabalho policial, e com a deferência apenas está demonstrando seu apreço por quem arrisca a vida em seu dia-a-dia? Será um exemplo de interação comunitária?
Em Minas Gerais, estas questões foram levantadas pela imprensa local:
Ver uma viatura parada na porta de uma padaria é cena comum nas ruas de Belo Horizonte. Isso porque a cultura do cafezinho e do pão de queijo de graça para os policiais militares já está enraizada entre os comerciantes da capital, que buscam em troca a garantia de policiamento e segurança.
A reportagem do Super Notícia percorreu ontem 11 padarias da capital e ouviu comerciantes que confirmaram que o lanche de graça para os policiais é comum e aceito sem a menor cerimônia. Eles reconhecem que a presença da viatura inibe a ação dos criminosos, mesmo que momentaneamente, mas negaram que ofereçam as refeições esperando algo em troca.
Difícil, nos tempos atuais, admitir nobreza d’alma em qualquer um que encontramos por aí, de modo que é preciso ter muita cautela ao admitir gratuidades e descontos exageradamente benevolentes. Há casos em que o “cafezinho” sai caro ao ponto do dono do estabelecimento alegar aos seus conhecidos certa relação promíscua sua com os policiais a quem ele serve – e o pior é que existem colegas que se submetem a essas promiscuidades.
Pagar é sempre a melhor saída para demonstrar dignidade e imparcialidade – mesmo que seja oferecida gratuidade, é legítimo pedir ao comerciante que cobre mais barato o lanche, mas que algo seja pago pela alimentação. Sempre é bom economizar no orçamento, principalmente entre uma categoria salarialmente desprivilegiada, mas, como diz uma famosa propaganda, algumas coisas não têm preço.


Abordagem Policial

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