É uma delegacia, mas nem parece


Categoria: Comportamento, Geral

Luísa Alcalde

O caso dos dois carroceiros carbonizados no Brás, região central, tem voltado os holofotes das emissoras de televisão para o 12º Distrito Policial (Pari) nas últimas semanas. Mas antes dessa repercussão, o delegado titular Eder Pereira da Silva, à frente das investigações, já havia chamado a atenção de moradores e comerciantes do bairro.

Em pouco mais de um ano transformou a delegacia, que “estava caindo aos pedaços”, em uma unidade que tem tudo para virar modelo.

Em 2009, a reportagem do Jornal da Tarde percorreu todas as delegacias da capital para avaliá-las. O 12º DP apresentava péssimas condições de conforto, atendimento regular e não havia sequer previsão para o registro de queixas, tamanha a demora. A situação agora é bem diferente.

“Dava vontade de chorar. O prédio era imundo, os banheiros não funcionavam e corria esgoto a céu aberto no estacionamento”, lembra Tânia Barbosa, presidente do Conselho de Segurança (Conseg) do bairro. “Agora, se não for flagrante, um BO leva 20 minutos para ser registrado”, elogia.

A secretária executiva da Associação dos Lojistas do Brás (Alobras), Inês Ferreira, pensa parecido. “Melhorou não só o atendimento, que está mais rápido, como também as dependências”, diz.

O responsável pelas mudanças é o delegado Silva. Vindo do Departamento de Investigações sobre Narcóticos, onde permaneceu oito anos, decorou a própria sala sozinho, implantou uma brinquedoteca e fraldário no térreo, e pôs um berço na delegacia.

Tudo com material doado por empresários locais e comunidade.

“Vivemos de informação e as pessoas têm de sentir que a delegacia é acolhedora”, afirma. “Não tem obra de arte e não é chique, mas encontrar fio caindo é desrespeitoso para o público”, diz.

O distrito, segundo ele, é lavado todos os dias. Hoje, os 13 banheiros funcionam. Quando ele chegou ao bairro apenas dois estavam em uso. O titular criou uma sala para atendimento especial para mulheres vítimas de violência doméstica, além de atendimento preferencial para idosos, gestantes e portadores de necessidades especiais. Há, ainda, uma cadeira de rodas, sala para advogados e outra para flagrantes, separada do público.

De acordo com Silva, de 52 anos, que não é casado nem tem filhos, torce para o São Paulo e é evangélico, hoje um registro policial leva, em média, 20 minutos para ser feito. “Depende do sistema, mas flagrantes podem demorar de meia hora até três horas”, diz. Os investigadores têm salas próprias onde antes era a antiga carceragem.

Em média, são de 30 a 35 ocorrências por dia no 12º DP. Em 2010 foram 7 mil queixas. A delegacia fecha à noite e finais de semana. No último trimestre, comparado a igual período de 2010, os roubos caíram de 265 para 256 e os furtos subiram de 865 para 930 (7,51%). Homicídios caíram de nove para dois casos.

Por dentro do 12º DP

Recepção oferece atendimento eletrônico com senha, baleiro, TV de LCD, ventilador e bebedouro

Há baleiros na recepção

Banheiros são perfumados

Delegado decorou a própria sala em tons sóbrios, com tapetes importados que trouxe de casa, cafeteira e ar-condicionado

Sala para atendimento especial para mulheres vítimas de violência doméstica

Atendimento preferencial para idosos

Fraldário montado no térreo com doações de comerciantes

Brinquedoteca ao lado do plantão garante a distração das crianças cujas mães precisam ir à delegacia

Delegado liga para as vítimas no dia seguinte para conferir como foram atendidas ao registrar uma ocorrência

Chefes de cartório, dos investigadores e dos escrivães devem usar gravata para atender ao público

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