Eu poderia utilizar este espaço para fazer duras críticas
à política (ou a falta de uma) que o poder público
tem adotado para o gravíssimo problema relativo ao
crack na cidade de São Paulo e, em especial, na região
da cidade conhecida como Cracolândia. No entanto,
quero ressaltar um episódio admirável que presenciei
nos últimos dias naquele lugar.
O fato diz respeito à atuação da GCM (Guarda
O fato diz respeito à atuação da GCM (Guarda
Civil Metropolitana), que trabalha na Cracolândia.
Sem entrar no mérito da questão quanto ao trabalho
que é realizado ali, pela GCM, até porque eles cumprem
determinações de seus superiores, chamou-me a atenção
a forma com a qual este trabalho vem sendo feito.
No último dia 20 de dezembro, em uma situação limite,
No último dia 20 de dezembro, em uma situação limite,
fui àquela região a procura de um rapaz, dependente
químico, que havia sumido de casa havia quatro dias e,
ao que tudo indicava, poderia estar naquele local.
Estacionei meu carro próximo a uma unidade móvel da
GCM, no “coração” da Cracolândia, onde pedi
ajuda. Fui prontamente orientado pelas GCMs Virgínia
e Edvânia, profissionais que fizeram algumas
recomendações para minha segurança, além de solicitarem
uma foto do rapaz, para facilitar sua identificação.
Naquela tarde permaneci na Cracolândia por
Naquela tarde permaneci na Cracolândia por
aproximadamente três horas, tempo necessário para
encontrar o rapaz. A procura foi rápida, porém o
restante do tempo foi empregado em longas
conversas e negociações para convencê-lo a sair dali
comigo em direção a uma clínica de tratamento.
GCM'F Virgínia Moraes |
Durante minha permanência naquele lugar, muitas
vezes acabei ficando sozinho, já que o rapaz, devido aos
efeitos da droga, ou ficava paranóico, desconfiando que
eu estivesse armando alguma emboscada para capturá-lo,
ou ficava fissurado por usar mais droga. Estes sintomas
fizeram com que ele adentrasse algumas vezes em
um daqueles prédios abandonados e semidestruídos,
ora se escondendo, ora em busca de mais drogas.
Nestes momentos busquei segurança junto à unidade
móvel da GCM, onde trocava informações com as
policiais sobre a situação.
Por fim, consegui levar o rapaz diretamente para uma clínica
em Mairiporã-SP e, depois de interná-lo, liguei para os
pais comunicando as boas novas.
Quando tudo parecia resolvido, já que o rapaz não mais
estava correndo risco de vida e seus pais finalmente
poderiam dormir mais tranquilos e passarem um Natal
com um pouco de esperança no coração, no dia 23 de
dezembro recebemos a notícia de que a clínica o
havia deixado ir embora, alegando que o ambiente
estava tumultuado com sua presença, já que ele
não queria ficar internado (sinais claros de abstinência).
Eu também vou me abster, neste momento, de comentar
a postura da clínica neste caso.
Uma vez que não voltou para casa naquele dia, deduzi
Uma vez que não voltou para casa naquele dia, deduzi
que ele poderia ter voltado à Cracolândia. Fui até lá no
dia 24, pela manhã, e o procurei em vão, até encontrar
com a GCMs Virginia que, lembrando-se de mim,
disse-me tê-lo visto ali havia menos de quarenta minutos.
Liguei para o pai do rapaz, que prontamente
encaminhou-se para lá. A partir deste momento a GCM
dividiu-se em duas frentes: uma para buscar o rapaz,
que se encontrava no meio da multidão de frequentadores
da Cracolândia (só quem esteve nesse lugar sabe a
dimensão do que isto representa), e a outra oferecendo
suporte emocional ao pai, procurando acolhê-lo, pois
percebiam sua ansiedade e desespero.
Quando a GCMs Virginia já mantinha o rapaz sob
sua guarda, teve a sensibilidade de ligar em meu celular,
avisando onde ela e seus companheiros da GCM se
encontravam, para que fôssemos ao seu encontro.
Durante este trâmite, deixamos de sobreaviso o
resgate especializado e também uma clínica com melhor
estrutura para estes casos, conduta que finalmente pode
ser concretizada após a ação extremamente competente
e compassiva da equipe da GCM que atua naquela área,
que me permito fazer representar na pessoa da GCMs
Virginia Moraes, por quem estou profundamente grato,
pois ela agiu da maneira como eu sempre esperei
ser atendido por um representante da segurança
pública. Determinação, educação, respeito, sensibilidade
e humanidade foram os princípios que dirigiram suas
ações. Também pude notar, pois ficou claro, que
a GCM trata os frequentadores da Cracolândia, não
como delinquentes, mas sim, como seres humanos
que estão doentes.
Equipe da GCM |
São atitudes como as da GCMs Virginia Moraes que
fazem manter acesa a chama de esperança que ainda
conservo em meu coração, de que um dia o horror e o
flagelo que vivenciam tantos dependentes e suas
famílias cheguem ao fim.
Psicólogo MARCOS ANTONIO MANFREDINI
Diretor da: LEMA VIDA E SAÚDE - Diagnóstico,
Prevenção e Tratamento em Saúde Mental
Artigo copiado de: www.lemavidaesaude.com.br/
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