De calça branca justa e blusinha roxa no umbigo, Nadine, de 36 anos, avisa outras colegas que o "rapa" vai passar às 17h. Na Praça da Sé, por onde circulam 2 milhões de pessoas todos os dias, nem só os camelôs e os moradores de rua precisam monitorar o trajeto dos guardas-civis. Nas últimas semanas, as prostitutas que trabalham na região foram expulsas pela Guarda Civil Metropolitana (GCM).
As garotas costumavam ficar atrás da catedral, ao lado de pontos comerciais antigos na cidade como o Sebo do Messias e a Cafeteria Copenhague. Desde a década de 1960 a área é conhecida como ponto de prostitutas. "Trabalho na praça há 15 anos. É a primeira vez que tenho de correr de guarda", lamenta Nadine, que agora não tem mais lugar fixo. Ela circula a esmo pelo centro, mas diz estar longe do hotel-pensão onde atendia, por R$ 60 a hora, "de motoboy a juiz".
Na terça-feira passada, a reportagem observou as garotas deixando a calçada atrás da praça após a chegada da GCM. As moças dizem que atender na Sé é melhor do que manter vínculo com donos de casas noturnas. Vanessa, de 21 anos, afirma realizar três programas por dia. "Se fosse em boate, teria de fazer uns seis pelo menos, pois tem o dinheiro do dono. Aqui só pago R$ 15 do quarto da pensão e fico com R$ 45 livre", conta a jovem. "Agora perdemos o ponto fixo e já não sei mais o que fazer. Não sou ladra para ficar correndo de guarda. Com tanto bandido nas ruas, a Guarda Civil deveria mudar o alvo."
Comércio. Os comerciantes do entorno da Sé aprovam a ação da GCM. "No começo nem me incomodava muito. Mas depois percebi que tinha cliente que não entrava porque elas (as garotas de programa) ficavam encostadas na parede da loja. Os guardas nunca ofenderam ou agiram com violência, eles só pedem para elas não ficarem paradas fazendo ponto na calçada", afirma Francisco Moreira, de 67 anos, dono de uma sapataria inaugurada por seu pai em 1958. "Até o fim dos anos 1990 eram umas cinco ou seis mulheres mais velhas que faziam ponto. Hoje, são mais de 30, tem muita garota novinha", acrescenta.
Em novembro do ano passado, os ambulantes que ficavam no meio da praça foram expulsos pela fiscalização municipal. Quatro meses depois, foi a vez de os moradores de rua que dormiam nas escadarias da igreja serem retirados pelos guardas. "É inegável que a situação melhorou. Você olha no meio da praça hoje e só tem os crentes pregando. Sumiram os mendigos e as prostitutas. A praça precisava mesmo de uma "limpeza"", elogia João Jorge de Mattos, de 46 anos, dono de uma farmácia de manipulação.
"Preservação". A Guarda Civil nega que as ações sejam parte de uma suposta política de higienização e diz que a meta é "a preservação do espaço público". Segundo a corporação, a intenção também é promover a reinserção social de moradores de rua e de garotas de programa por meio de programas de assistência da Prefeitura. "A GCM tem como prioridade inibir a desordem urbana e a sensação de insegurança", informou a Assessoria de Imprensa da guarda.
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