COMANDATUBA (BA) e SÃO PAULO — Com a decisão do ministro Aloizio Mercadante de permanecer no governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aguarda o resultado de uma pesquisa qualitativa para escolher o candidato do PT ao governo de São Paulo. O levantamento será realizado no próximo mês pelo marqueteiro João Santana e irá avaliar a aprovação dos paulistas em relação ao desempenho da administração federal nas áreas da saúde e da economia. O líder petista ainda tem dúvidas se o ministro Alexandre Padilha, que conta com o apoio da maioria do partido em São Paulo, é o melhor nome para a disputa estadual.
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Além de não ter uma marca forte de gestão, as pesquisas anteriores feitas por João Santana mostraram a área da saúde como uma das piores do governo federal na avaliação dos paulistas. Com o cenário desfavorável, Lula tem cogitado o nome do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que, na visão dele, é identificado com medidas econômicas que evitaram que o país entrasse em recessão durante a crise econômica mundial, em 2008. Para o ex-presidente, assim como o prefeito Fernando Haddad, Mantega tem um perfil mais intelectual e menos partidário, que encontra respaldo na classe média paulista.
O nome de Mantega, no entanto, encontra grande resistência entre os petistas de São Paulo, que se queixam que ele não participa de atividades partidárias e não recebe prefeitos e parlamentares.
A meta do PT é que o nome do candidato ao governo de São Paulo seja definido até julho deste ano. O escolhido deve começar a percorrer o estado já no segundo semestre. A data da saída do ministério depende da presidente Dilma Rousseff. A eleição para o governo de São Paulo é vista como prioritária para o PT nas disputas estaduais no próximo ano. Com a conquista da prefeitura da capital paulista no ano passado, o partido acredita que nunca teve um cenário tão favorável para acabar com os 18 anos de domínio do PSDB no estado.
— É o momento de o partido ter tranquilidade e dialogar para chegar a um nome que represente a unidade do partido e construa um palanque forte para Dilma em São Paulo. Penso que o PT nunca teve tantas condições de liderar um arco de alianças com capacidade de vitória no estado — disse o presidente estadual do PT, Edinho Silva.
Na sexta-feira, Mercadante anunciou que não será candidato para se dedicar ao Ministério da Educação. Disse ainda que, no ano que vem, participará ativamente da candidatura à reeleição da presidente. Ele poderá assumir a coordenação da campanha.
Com o novo cenário, Padilha se tornou ainda mais favorito entre os petistas paulistas. Ele tem apoio da maioria dos prefeitos da legenda e teria a preferência de 80% dos militantes, segundo um cacique da direção estadual. Pesa a seu favor também o bom trânsito com prefeitos de outras siglas, como o PMDB e o PSD, que os petistas sonham ver na chapa que disputará o governo estadual. Por causa desses fatores, a escolha de um outro nome que não a do ministro da Saúde, na visão desse dirigente, poderia fazer com que o partido entrasse rachado na eleição.
O entrave ainda é Lula. No fim do ano passado, após as eleições municipais, o ex-presidente pediu a Padilha que criasse até junho deste ano uma marca de gestão, que lhe servisse de vitrine eleitoral para 2014. A ideia era seguir o exemplo de Haddad, que explorou o Prouni na eleição para a prefeitura de São Paulo. Na conversa, Lula chegou a citar o ex-governador José Serra que, à frente do Ministério da Saúde, criou sua principal vitrine eleitoral: a viabilização dos medicamentos genéricos. Em conversa com petistas, na última quinta-feira, o ex-presidente queixou-se de que, até o momento, o ministro não conseguiu atender a esse pedido. A avaliação é que agora ficou tarde para conseguir implantar a marca.
A pesquisa qualitativa servirá para medir a importância entre os eleitores de o candidato do PT ter realmente essa bandeira. Os petistas já têm até uma estratégia para neutralizar as prováveis críticas ao desempenho de Padilha no ministério: vão dizer que o caos da saúde é culpa também de estados e municípios.
Um outro ponto que será testado no levantamento de João Santana é se uma candidatura de Padilha poderia ter impacto negativo sobre o desempenho de Dilma em São Paulo na eleição presidencial. Com as entradas do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e do governador Eduardo Campos (PSB) na disputa, o PT acredita que a presidente perderá votos em Minas e Pernambuco. Assim, uma boa votação entre os eleitores paulistas se torna fundamental para as suas pretensões de ser reeleita.
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