Rio -  De mãos dadas com o aumento do número de grávidas
entorpecidas pelo crack e de bebês doentes vítimas do vício da
 mãe está o desperdício do dinheiro público nas ações de combate
 à proliferação das drogas no Município do Rio.
Compras superfaturadas, como cinco molhos de salsa por
 R$ 64,50, e acolhimento de viciados em imóvel vizinho a
 cracolândia colocam sob suspeita a parceria da Secretaria 
Municipal de Assistência Social com ONGs que recebem esses
 dependentes químicos.
Relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM) de 2009 
revela excessos como acompra do tempero pela Casa Espírita
 Tasloo, que custa R$ 6,50 em mercados.
Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
Segundo o TCM, há irregularidade no contrato de aluguel de casa
 na Rua Guapiara 43, na Tijuca | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
Inspetores encontraram irregularidades em dois contratos da
Tasloo, nos valores de R$ 9.509.134,24 e R$ 5.268.760,05.
Na lista de compras , a abóbora custa R$ 2,90, ágio de 156,64%
 em relação ao preço da tabela da Fundação Getúlio Vargas: R$ 1,13.
Para avaliar a compra de produtos da Tasloo, técnicos visitaram, 
em abril do ano passado, a Cerealista Amazonas Ltda., 
principal fornecedora de gêneros alimentícios e produtos de 
limpeza para a ONG.
A empresa, que constava na prestação de contas da organização,
 sequer vendia as mercadorias enumeradas nas notas fiscais,
como carne, linguiça calabresa, mortadela, queijo, melancia,
óleo de soja e produtos de limpeza.
Perigo
Ao inspecionar abrigo, inspetores do TCM acertaram no que
não viram nas notas fiscais. Só um muro separa a Unidade
Municipal de Recepção e Acolhimento de Paciência, que cuida
de viciados em drogas, de uma cracolândia.
A constatação foi em 13 de abril do ano passado. O imóvel
 fica perto da Favela de Antares e, nos fundos, está a linha
do trem, local conhecido por ser ponto de consumo de drogas.
Contrato de um ano, cobrança de aluguel por 60 meses
Três outras ONGs tiveram irregularidades apontadas pelo
TCM. Os técnicos identificaram que a Central de Oportunidades
 alugou três imóveis por R$ 12.450 sem justificativa. Os prazos
de locação eram de até cinco anos, e o convênio, de um ano só.
Segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social o imóvel
da R. Guapiara 43, na Tijuca, foi alugado para ser Centro de
Referência de Assistência Social. O contrato acabou e o
 local está pichado.
No caso da ONG Obra Promoção dos Jovens houve alimentos
superfaturados. Já na ONG Roda Viva, há notas de borracheiro
 para carros alugados. Apesar das incoerências, a secretaria
 disse que pagava segundo a apresentação de prestação de contas.
Secretaria diz que vai reaver prejuízo
Em nota, a Secretaria Municipal de Assistência Social informou
 que valores cobrados a mais serão descontados nos próximos
 pagamentos que ainda deve à ONG.
O órgão diz que analisará os convênios anteriores a 2011 e
que, se for encontrada irregularidade, abrirá ações cíveis e
penais contra servidores e dirigentes de instituições e de
empresas envolvidas. A secretaria explica que as distorções
foram corrigidas com a adoção de valores limites para
alimentos em 2011.