Acabei entrando para as redações, para o mercado de trabalho, mas tenho certeza de que continuo carregando o legado da minha educação. Não falo do conhecimento, que muitas vezes vai se escondendo nos cantos empoeirados da memória. Mas da forma diferente de ver e pensar o mundo. Essa, sim, foi a principal lição que recebi de meus professores – de alguns mais do que de outros, naturalmente.
Às vezes é mais fácil notar essa influência – lembro-me, por exemplo, de uma professora de redação que dizia que era preciso ter uma “visão dialética” de mundo, enxergando as contradições. Mas nem sempre temos consciência dos ensinamentos que aplicamos em nossas vidas. E podemos até achar que não aprendemos nada na escola, que os professores não tiveram nenhuma importância.
Não é o que mostra um estudo recém-publicado nos Estados Unidos. Os pesquisadores acompanharam 2,5 milhões de estudantes por 20 anos e descobriram que os bons professores dos Ensinos Fundamental e Médio – aqueles que ajudavam subir a nota dos estudantes nas provas aplicadas pelo Estado – tinham um efeito positivo não só na vida acadêmica. Seus alunos corriam menos risco de engravidar na adolescência, tinham mais chance de ingressar na universidade e, na vida adulta, salários maiores.
O efeito acontece em etapas: quanto mais vão bem na escola, mais os jovens têm chance de continuar estudando e, quanto mais anos de estudo, maiores os salários. Mas é bom não esquecer que tudo começou lá atrás, com um bom professor.
O estudo, feito por economistas das Universidades de Harvard e Columbia, é o mais extenso e detalhado já realizado sobre o assunto, e rendeu uma reportagem no jornal The New York Times.
Uma das grandes questões, uma vez estabelecida a importância do professor, é como avaliá-lo. Nem sempre funciona olhar só para a nota de seus alunos – muitos fatores, inclusive a desonestidade, podem influenciar nesse resultado. Mas o estudo mostrou que um fator relativamente confiável é a capacidade do professor de melhorar a nota da classe em relação aos resultados anteriores da turma. “O que esse e outros estudos mostram é que o professor é provavelmente mais importante do que as pessoas pensam. Que as variações ou diferenças entre um professor realmente ruim e um realmente bom têm um impacto de longo prazo para as crianças”, disse Eric Janushel, pesquisador de Stanford.
Colocar um professor mediano no lugar de um ruim pode garantir US$ 266 mil a mais na conta bancária de uma classe ao longo da vida. O impacto, para cada indivíduo, não é tão grande. Mas, considerando que o professor vai ensinar várias turmas por ano, por vários anos, pode ser um prejuízo para lá de considerável – para a sociedade.
Por isso, nenhum esforço é demais para garantir bons professores. Melhores salários, investimento em formação, reconhecimento social. Com este meu post, espero contribuir pelo menos para o terceiro quesito. E aproveitar para agradecer a minha sorte por ter topado com tantos bons mestres. A começar pela minha mãe.
Letícia Sorg é repórter especial de ÉPOCA em São Paulo.
Cristian Rocha
"Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes." Marcos 12:30-31
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