quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Violência no Brasil tem endereço, faixa etária e raça, apontam especialistas em seminário no Rio


A violência no Brasil tem diferenças geográficas, de faixa etária e de raça. Essa é uma das conclusões do painel “Juventude, Raça/Etnia e Letalidade”, o segundo realizado no Seminário de Desarmamento, Controle de Armas e Prevenção à Violência, em comemoração ao Dia dos Direitos Humanos 2011, no Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ).

Participaram do painel a Coordenadora da Área de Minorias, Movimentos Sociais e Cidadania do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), Silvia Ramos, a Chefe de Proteção do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Casimira Benge, e o Assessor Especial da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Edson Cardoso. A mediação foi do Diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), Giancarlo Summa.

Silvia Ramos abriu as discussões e enfatizou que jovens homens negros são as principais vítimas dos incidentes de violência no Brasil. Eles correspondem a cerca de 90% dos incidentes.

Silvia Ramos, Coordenadora da Área de Minorias, Movimentos Sociais e Cidadania do Cesec. Foto: Diego Blanco/UNIC Rio.

Silvia Ramos, Coordenadora da Área de Minorias, Movimentos Sociais e Cidadania do Cesec. Foto: Diego Blanco/UNIC Rio.

Para exemplificar esse perfil de violência brasileira, Silva Ramos complementou com o exemplo da cidade do Rio de Janeiro. Na zona sul, região carioca cuja população possui um alto poder aquisitivo, as taxas de homicídio variam de 2 a 12 por cada 100 mil habitantes, índices próximos aos da Europa. Já nas regiões pobres, as taxas chegam a 75 para cada 100 mil habitantes. “É como se existissem dois países dentro de uma cidade”, avaliou.

Adolescentes são mais vulneráveis

Segundo o novo relatório do UNICEF, ‘Situação da Adolescência Brasileira’, jovens negros têm quatro vezes mais chances de sofrer homicídio que brancos. Para tratar da violência na adolescência, Casimira Benge trouxe outros dados alarmantes. Cerca de 45% das morte entre adolescentes entre 12 e 19 anos são referentes a homicídios, segundo o Ministério da Saúde. A estatística superior à média nacional de 6%.

Casimira Benge, Chefe da área de Proteção do UNICEF, fala enquanto é observada pelo Diretor do UNIC Rio, Giancarlo Summa. Foto: Diego Blanco/UNIC Rio.

Casimira Benge, Chefe da área de Proteção do UNICEF, fala enquanto é observada pelo Diretor do UNIC Rio, Giancarlo Summa. Foto: Diego Blanco/UNIC Rio.

A Chefe de Proteção do UNICEF também ressaltou os perigos das armas de fogo, principalmente em grandes cidades. Eles representam os principais responsáveis pela morte de jovens em cidades com mais de 100 mil habitantes. Maceió, Recife e Salvador foram consideradas as metrópoles de maiores riscos para jovens.

A questão dos perfis da violência brasileira, na opinião de Edson Cardoso, não pode ser visto apenas como uma questão de segurança pública. Para o assessor, existem raízes históricas de racismo na sociedade brasileira. “Nossa cultura nos formou para hierarquizar os seres humanos. As distinções sociais estão na base do surgimento do Brasil”.

Edson Cardoso, Assessor Especial da SEPPIR; Silvia Ramos, Coordenadora da Área de Minorias, Movimentos Sociais e Cidadania do Cesec; e o Diretor do UNIC Rio, Giancarlo Summa. Foto: Diego Blanco/UNIC Rio.

Edson Cardoso, Assessor Especial da SEPPIR; Silvia Ramos, Coordenadora da Área de Minorias, Movimentos Sociais e Cidadania do Cesec; e o Diretor do UNIC Rio, Giancarlo Summa. Foto: Diego Blanco/UNIC Rio.

Para mudar essa situação, seria necessária uma campanha com participação de pessoas das áreas de comunicação, educação, publicidade e política. “Precisamos rever padrões, não podemos ver negros como vítimas preferenciais. Vivemos numa sociedade que não quer compartilhar.”

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