domingo, 27 de novembro de 2011

Porque Pensar Relações Raciais na GCM

Elieser Marcelino dos Santos
GCM - 2ª Classe
Guarda Civil Metropolitana da Cidade de São Paulo









Outro dia em conversa com um guarda, amigo e ex-aluno, este
declarou que a impressão que teve das aulas de relação racial
era de estimulo e apoio preconceituoso as demais etnias, já que
tal instrução é baseada na história e contexto da etnia Negra.

Por isso aqui faço um esclarecimento, não se trata de apologia,
ou incentivo a qualquer atitude explicita ou velada, meio de
discriminação ou preconceito.

É por estes e outros que fico mais convicto da necessidade de
se tratar o assunto, dentro ou fora do âmbito da instituição,
pois ainda, a grande maioria de nós está alienada segundo
os moldes que os brasileiros somos educados ou como ouso
a dizer adestrados, seja no modo de pensar e ver tal
assunto, sempre amparados na cultura do isso é normal,
isso foi e vai ser sempre assim, é o imaginário racista de que
tudo que se faz ou se pensa a respeito do combate a
tal ato ou atitude é injusto, é privilegiar, é ainda segundo
estes não necessário.

Em se falando de Brasil, exploração, cultura, que base
poderíamos usar para tratar tal discussão? Se não a
história do escravos e índios deste país?

A grande dificuldade que ainda temos em lidar com este
tema ratifica a tamanha importância e a necessidade do
mesma estar na grade curricular da formação do GCM,
até porque como agentes públicos, além de termos
por obrigação o tratamento dos munícipes com urbanidade,
com respeito, este dever vir regado de atos e
atitudes não preconceituosos ou discriminatórias. (a chamada
progressão do uso da força, jamais deve vir potencializada
pela discriminação, intolerância e preconceito).

Tratar este tema é dar oportunidade para instigar o aluno
candidato ao cargo de agente público na função de GCM
a reconstrução das práticas políticas, pois estas estão
interligadas por suas práticas sociais como, a legitimidade
do exercício da função e o papel da vida individual.

As aulas não tem a intenção da mudança de valores, até
porque não se muda valores da noite para o dia, (minha frase
de apresentação das aulas), mas com certeza é um estimulo
para a reflexão de, sobre, quais valores nos balizamos até
então, sejam estes éticos e morais ou culturais. agir pelo dever
ou por dever eis a questão.

O papel das ações afirmativas também é fazer uma reconstrução
da prática política é falar da compreensão e da ação, isso é
: prática política.

A fundamentação de uma sociedade e base econômica, passa
pelo papel da vida individual.

O Cidadão, o Indivíduo, o Aluno, o GCM deve agir pelo dever
ou por dever eis a questão.

Ação ética e moral segundo o filósofo Immanuel Kant: é aquela
que ação que pode se tornar uma lei universal, agir de tal modo
que a máxima da nossa ação possa valer ao mesmo
tempo como princípio de uma legislação universal, é o que
nos pede o filósofo.

Nossos valores e nossas idiossincrasias ainda estão baseados
apenas no que vemos ao nosso redor, nos limitamos às
percepções que estão nos limites de nossa curta cultura visão.

Falar da história dos negros e índios deste país é, nada mais
nada menos que delatar as mazelas de um estado que foi construído,
enriquecido e mantido com base na exploração, opressão e
massacre de uma parcela de seus cidadãos, algo que se repete
até os dias de hoje.

Não se trata de inocentar quem seqüestrava, quem os mantinham
cativos, ou quem os vendiam, a manutenção deste sistema é
que dever ser repensado e revisto sempre.

Separar famílias, tirar dignidade, ignorar cultura, nomes,
idade, impor religião, violar e violentar indivíduos de forma
bárbara , expondo-os aos mais baixos níveis de tudo que
se possa pensar ou imaginar, assim era e proporcionalmente
ainda o é, deixamos de ser escravos nominais e
passamos a ser escravos sistema, capitalista, do imaginário
racista, do descaso do estado, do abandono, do acesso,
do direito e etc.

A existência do chamado ciclo silencioso ainda é muito forte
e tem um papel fundamental na exclusão e na inclusão.
Estes fatores vão desencadear vários problemas
de ordem sociológica.

O racismo e o pré-conceito estão transvertidos em várias
práticas, e para combater este male devemos reinterpretar os
pontos constitucionais e qual os mecanismos e suas práticas.

A um pensamento filosófico que diz que, as maiores
tragédias da humanidade foram também o motor motivador
para elaboração de várias medidas para proteção da
integridade humana e o progresso social, onde culminou por
ex. a ONU, fundada em 1945 pós segunda guerra mundial.

Ouso pensar e deixar uma pergunta no ar, pós 13 de Maio
de 1888, o que foi feito, para onde nós como país caminhamos
em relação à dignidade humana e o progresso social destes
que, até então tiveram o direito de serem vistos como seres
humanos negados?

Ou a lei Áurea resolveu todos os problemas inclusive a dos
estereótipos, do pré-conceito, da discriminação, da educação,
da saúde, do emprego, do acesso, etc.

Os discursos de liberdade traduzem as desigualdades, pois
ao falarmos de igualdade perceberemos fatores enormes de
desigualdade, a começar pelo sentido, ser tolerante que na
verdade é não querer ser igual mas sim, permitir que o
outro seja igual a ele.

É muito mais fácil fingir que não se vê a necessidade de ações
afirmativas, (não negando aqui a dificuldade da execução das
mesmas), mas é mais fácil fingir que, como sempre está
tudo bem, ou culpar os que sempre foram tidos como culpados,
é lamentável ver e perceber que no imaginário racista e
preconceituoso, qualquer reação do vitimado, já lhes servem
de alimento ou munição para proclamar auto defesa, em
nome da “lei, da ordem e da justiça”.

Propor ações afirmativas não é propor mais um meio de
privilégios mas sim, equilíbrio e equidade.

Por fim amigos precisamos despertar do sono indolente e nos
levantar do berço esplêndido da comodidade, de nossa zona de
conforto para a realidade do; “ I Have a Dream: Que um dia
nossa nação se porá de pé e viverá o verdadeiro significado
de sua crença, que todos os homens foram criados iguais.
Eu tenho um sonho, e nele as pessoas viverão em uma nação
em que não serão julgados pela cor da sua pele mas sim pela
essência de seus caráteres.” (trecho do discurso do
Pr. Martin Luther King).

Mas não basta sonhar é preciso agir, se pensar é existir
como propõe o filósofo René Descartes, passemos
do sonha a existência.

É possível sim por em prática o que muitos vêem com utopia,
a proposta do filósofo John Raws – de uma Justiça com
Equidade e uma sociedade bem ordenada.

A proposta é repensar o exercício da cidadania, não
como meros valores e regras capitalistas.

É não tratar o próximo, minha imagem e semelhança com
apenas um ser.

É querer e desejar ao outro o mesmo valor de vida que
eu tenho e desejo para mim.

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