Solenidade marcou início do Encontro Ibero-americano dos Afrodescendentes, em Salvador.
O reconhecimento dos avanços no combate ao racismo e à discriminação e a necessidade de ampliar as conquistas dos últimos dez manos foram a tônica dos discursos da solenidade de abertura oficial do Encontro Ibero-americano do Ano Internacional dos Afrodescendentes, evento que acontece até sábado (19/11) em Salvador. Um dia após o início dos debates envolvendo organizações da sociedade civil, aconteceu hoje (17/11) a solenidade de abertura, reunindo os representantes de todas as entidades envolvidas na organização do evento.
O Teatro Yemanjá, no Centro de Convenções da Bahia, recebeu um público eclético composto de autoridades, governantes, militantes, artistas e diplomatas com um único objetivo: debater novas estratégias para o avanço da igualdade no mundo e os rumos da causa antirracista. A saudação religiosa feita por Makota Valdina precedeu o ato formal de abertura. Ela fez oração em quicongo, língua do povo banto, e também em iourubá. Makota pediu paz e harmonia a Oxalá, além de uma referência a Ogum, para a abertura dos caminhos e o fortalecimento da luta em prol da igualdade.
Jorge Chediek, coordenador-residente da ONU no Brasil, ressaltou a importância da cultura africana para a formação dos povos da Ibero-América e do Caribe, desde a culinária, passando pelas línguas e pela musicalidade. “O objetivo desse encontro é criar mecanismos internacionais de garantia dos direitos à igualdade”, disse Chediek. A sociedade civil foi representada por Rita Bárbara, que chamou a atenção para a fortaleza do povo negro e para a necessidade de se olhar sempre para frente. “Vamos avançar para além de Durban, mais e mais”, afirmou.
O titular da Secretaria Geral Ibero-Americana, Enrique Iglesias, um dos idealizadores do Afro XXI, ressaltou que a escolha de Salvador para sediar o Encontro decorreu da posição destacada da Soterópolis como a maior cidade africana fora da África. A evidência dessa influência foi atestada pelo IBGE, quando identificou que mais de 50% da população brasileira se autodefine como afrodescendente. Iglesias ressaltou o avanço das questões raciais como consequência do empenho dos organismos sociais, e indicou que esta é uma batalha longa.
A embaixadora Vera Machado, representante do Ministro de Relações Exteriores, afirmou que as iniciativas do governo federal evidenciam a valorização do Brasil aos legados africanos e sua importância para a formação da nação brasileira. Para a embaixadora, o importante é identificar, nas discussões, estratégias inovadoras e eficazes para o combate ao racismo. “Precisamos entender a diversidade como fator civilizatório”, encerrou.
Homenagem
No dia em que receberá a medalha Zumbi dos Palmares, honraria concedida pela Câmara Municipal de Salvador, a ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, foi aclamada de pé pelos participantes do Afro XXI, que estenderam as palmas por cerca de um minuto. Bairros fez questão de salientar a presença significativa de representantes da diáspora africana no Encontro. “Hoje fazemos o enfrentamento ao racismo num ambiente social modificado por nossas próprias ações”, atestou a ministra, rememorando o Quilombo dos Palmares como o melhor exemplo de luta pela dignidade humana na América Latina.
O último discurso da sessão de abertura coube ao governador da Bahia, Jaques Wagner, que expressou o orgulho dos baianos em sediar o Afro XXI. Apesar da valorização das políticas públicas em nível federal e estadual referentes à reparação, o governador fez questão de dizer que tudo o que foi feito ainda foi pouco, porque a questão do racismo e da igualdade de direitos ainda não foi superada.
O intercâmbio entre a África e a Bahia foi valorizado por Wagner, que fez duas visitas à África enquanto governador. “A Bahia é a porta da África no Brasil e na América Latina”, disse. Para o governador, o Brasil deve ao continente africano uma relação de colaboração e não de colonização. “Precisamos pagar à África os sacrifícios dos seus que vieram para esta terra contra a vontade e deram uma contribuição definitiva para a formação do Brasil”.
Oração
A homenagem à ministra Luiza Bairros não passou despercebida ao governador. Ele afirmou que irá transmitir à presidenta Dilma a reação efusiva do público, o que na opinião dele é uma declaração pública de apoio à manutenção da Seppir. O fechamento da cerimônia oficial ficou por conta do cantor e compositor Lazzo Matumbi, que emocionou o público cantando N’ Kosi Sikeleli Africa, Hino do Congresso Nacional Africano.
No Ano Internacional das e dos Afrodescendentes, os quatro mártires da Revolta dos Búzios são os primeiros negros baianos que entraram para o panteão de heróis da pátria. Ciente de que após 213 anos os ideais desses revolucionários ainda continuam norteando as políticas públicas para promoção da igualdade racial, a Sepromi está apoiando e promovendo uma série atividades em comemoração ao mês da consciência negra, além de celebrar esse reconhecimento histórico.
Diversas agências, fundos e programas do Sistema da ONU no Brasil estão participando ativamente do evento, como o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a ONU Mulheres e o Escritório do Coordenador Residente das Nações Unidas no Brasil. O evento acontece no âmbito do Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, celebrado em 2011.
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