segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A polícia é uma ponte para outro emprego?



Não é raro se ouvir certa crítica, principalmente por parte de
policiais dos escalões superiores, àquele profissional que
ingressou na instituição policial com a intenção de deixá-la
em breve, tão logo consiga outro emprego que satisfaça suas
ambições – financeiras e até mesmo vocacionais. Como se deve
encarar este uso “descartável” das polícias?
Preliminarmente é preciso questionar este contexto sob outro
ponto de vista: existirão policiais que ingressam nas corporações
admitindo esta carreira como permanente, sem interesse de
sair, mas que são “convencidos” pelas mazelas institucionais
a abandonar a corporação que servem? Acreditamos que
existem casos assim, onde as polícias perdem profissionais
interessados e competentes, mas não adaptados a certas
perversidades organizacionais – afinal, ninguém tem
vocação para certas contradições.
Voltando àqueles que já ingressam nas polícias visando algo
diferente, é preciso reconhecer que este fenômeno é efeito
da conjuntura econômica e cultural que vivenciamos, onde
as ambições estão diretamente ligadas à aquisição capitalista,
e, devemos lembrar, as polícias brasileiras não são as melhores
organizações para garantir certos luxos – boa parte delas sequer
garante as necessidades mais básicas.

Por outro lado, lembremos que boa parte daqueles que inicialmente
tinham a intenção de sair da corporação policial acabam
ficando, mais por não ter conseguido algo satisfatório diferente
da polícia do que por “paixão” pela corporação policial. As
exigências do trabalho nas polícias, a dinâmica do serviço, que
nem sempre possibilita a dedicação a outros afazeres, acaba
limitando o acesso a outras carreiras.
É importante frisar, para aqueles que vêem o ofício policial como
mera “ponte” para outro emprego, que é perigoso confundir
vontade de sair com falta de vontade de trabalhar. Não é admissível
se omitir e deturpar as missões que lhe são atribuídas motivado
pelo ímpeto de abandonar a instituição, pois isto pode causar
problemas extremos (e a atividade policial é uma profissão de
extremos), como a perda da vida própria ou alheia.
Não é antiético querer sair da instituição policial, visando
horizontes profissionais que lhe sejam mais favoráveis. Existem
certos “vocacionados”, que confundem a atividade policial com
a prática do extermínio e da arbitrariedade, que deveriam ser
menos desejados nas polícias do que aqueles que querem “passar
uma chuva”, mas que cumprem seus papéis ordinariamente. Uma
coisa é certa: avançar no fomento de corporações policiais mais
justas, valorizadas e bem estruturadas diminuirá cada vez mais
esta debandada, e o uso “descartável” das polícias, evitando
assim a perda de bons profissionais.


Nenhum comentário:

Postar um comentário