VEREADORES RECUSAM EXPLICAÇÕES E AMEAÇAM PARAR A CÂMARA


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RenattodSousa
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Vereadores paulistanos consideraram insuficientes as explicações

dadas na noite desta quarta-feira (10) pelo secretário de Segurança

Urbana, Edson Ortega, para o impedimento de que parlamentares

vistoriassem a Feira da Madrugada, no Brás. O espaço foi fechado

no último dia 5 durante uma operação contra a pirataria, contrabando

e sonegação fiscal coordenada pelo Gabinete de Segurança da Prefeitura.

“Falamos sobre a incapacidade do reconhecimento da Lei Orgânica

e das prerrogativas que os parlamentares têm e que devem ser

exercidas para que não se atrofiem. Prerrogativas da democracia

atrofiadas são a negação do Estado Democrático de Direito.

Vivemos um dia ruim, à medida que parte delas foi subtraída”,

declarou o vereador José Police Neto, presidente da Câmara.

O secretário foi convocado para prestar esclarecimentos sobre

as razões que impediram o acesso de vereadores integrantes

da Subcomissão da Feira da Madrugada ao local, para

vistoriarem o espaço — a área está fechada desde a última

semana por suspeitas de irregularidades. Inconformados,

os parlamentares ameaçaram paralisar os trabalhos legislativos

enquanto não houver uma solução satisfatória para o caso.

“Enquanto não houver uma manifestação do prefeito, se retratando

perante os vereadores, os projetos do Executivo estão

paralisados aqui na Casa. Conversamos e a maioria dos

vereadores tem acordo nesta proposta. Foi dada a oportunidade

para que o secretário reconhecesse seu erro, de que cometeu

excessos, mas ele não vê dessa forma. O secretário veio, nós

o ouvimos, ele não se retratou. Sendo assim, vamos tomar

nossas medidas”, disse o vereador Netinho de Paula (PCdoB),

1° secretário da Mesa Diretora da Câmara.

De acordo com os parlamentares, o impedimento que sofreram

nesta quarta-feira infringe o artigo 23 da Lei Orgânica do Município,

que permite aos vereadores vistoriarem qualquer espaço da

administração pública municipal.

Durante reunião nesta noite com a presença de mais de 20

vereadores, o secretário Ortega tentou justificar a medida, dizendo

que consultou a Procuradoria Geral do Município, que o orientou

a impedir o acesso dos parlamentares ao espaço onde se

realiza a feira. Ortega afirmou que o incidente desta quarta

se deu por ausência de orientação explícita nesse sentido.

“Mas vamos corrigir isso”, prometeu.

Os vereadores recusaram a proposta. Police Neto disse que

a reunião não removeu o impasse, e foi mais longe: disse que

duvida das condições do secretário “para enfrentar um

debate como esse, do ponto de vista das relações democráticas”.

E afirmou: “A atuação dele desagradou à Câmara. Isto ficou claro.

Transpiramos absoluta insatisfação”, arrematou.

O líder do PT na Casa, vereador Ítalo Cardoso, disse que

espera um posicionamento formal do prefeito Gilberto Kassab

sobre o ocorrido, para saber se houve alguma orientação do

Executivo para impedir que os vereadores vistoriassem a feira ou

se a proibição foi um ato isolado do secretário de Segurança

Urbana. “Foi uma ação deliberada, não foi equívoco de funcionário

mal informado. Havia uma orientação do secretário e em nenhum

momento ele teve a dignidade de dizer que errou. O prefeito

precisa dizer se é isso que ele acha, que naquele espaço os

vereadores não podem entrar, se naquele espaço tem coisas

que não podemos saber. Aí é mais preocupante. Se não houver

um tratamento satisfatório, continua o mal-estar que vimos nesta

Casa hoje, aí a Câmara ficará remoendo esse mal-estar e a

votação com certeza não sai.”

A Feira da Madrugada, que ocupa um espaço de 136 mil

metros quadrados no bairro do Brás e conta com mais de

seis mil lojas, tem sido alvo de uma série de denúncias por

parte do Ministério Público e do Tribunal de Contas do

Município. A última, divulgada nesta quarta-feira, aponta

indícios de fraude na licitação para a contratação da empresa

que faz a segurança do local.

Integrante da subcomissão que fiscaliza a feira, o vereador

Adilson Amadeu (PTB) também se mostrou favorável à

paralisação dos trabalhos legislativos. “Vejo com bons olhos.

Os vereadores desta Casa devem usar essa tarefa da seguinte

maneira: não se vota nada nesta Casa se o prefeito não der

uma solução para um problema crônico como o complexo

da Feira da Madrugada”.

Police Neto contemporizou com discurso mais equilibrado. "A

retaliação e a destemperança são as únicas coisas de que não

precisamos, pois devemos ajudar uma população que atua naquele

território e que precisa dos vereadores atuantes para buscar soluções.

Não transformemos algo muito preocupante, mas episódico, em algo

que consuma todo o nosso tempo”.

Ele disse ainda que nos próximos dias articulará com as lideranças

partidárias um caminho a seguir, buscando diálogo com o

prefeito ou com outros secretários. “Queremos a manutenção de

relações harmoniosas e respeitosas e a garantia de que o Parlamento

municipal participará das soluções. Senão, ele não diz a que veio”.

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(10/08/2011 - 23h06)

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