domingo, 1 de maio de 2011

A Polícia é sempre de tudo culpada.


(Archimedes Marques)

Estamos a viver em uma sociedade cada vez

mais exigente quanto aos seus direitos e cada

vez mais intransigente quanto aos direitos e

deveres dos policiais.

A frase popular de autor desconhecido

sempre é vivenciada tristemente por todas

as Policias do Brasil: “Quando alguém está

em perigo, pensa em Deus e clama pela

polícia. Passado o perigo, se esquece

de Deus e execra a polícia”.

É dentro deste contexto que a Policia termina

levando desvantagem em tudo, sendo considerada

culpada por aquilo que fez, pelo que não fez,

pelo que poderia fazer ou pelo que não pode fazer.

O povo ainda não entendeu que a Polícia

só pode prender em flagrante delito ou por ordem

judicial. Se a Polícia não consegue prender

um marginal qualquer numa dessas duas

condições é incompetente. Se fora do

flagrante e sem mandado judicial não

prende o criminoso, então compactua com

o crime ou protege o marginal.

Se uma representação feita pela Polícia Judiciária,

solicitando a prisão preventiva para determinado

criminoso demora a sair ou é indeferida pela

Justiça, a culpada é a Polícia que não

soube arrecadar provas suficientes para

sustentar o pedido.

Se um delinquente é contumaz em crimes de

ação privada e nunca fora denunciado pelas

suas vítimas para o devido processo criminal,

por medo ou por outro motivo qualquer, a culpada

é a Polícia que não o prende e põe fim às suas

atividades criminosas.

Se a Polícia hoje prende e a Justiça amanhã

solta, a culpada é a Polícia que não soube fazer

o Inquérito ou deixou falhas para a

defesa do marginal.

Se um bandido é morto durante um confronto

com a Policia, os culpados sempre são os

policiais que não tiveram competência para

prendê-lo. Se nessa mesma ação a Polícia

consegue prender o criminoso, é taxada de

fraca, medrosa, covarde, pois o certo era matar

o delinquente.

Se a Polícia diz que houve troca de tiros em

uma ação, logo é taxada de mentirosa e

assassina, pois o marginal sequer estava armado,

plantaram uma arma em sua mão, ou se

estava, o perseguido era apenas um

delinqüente eventual não perigoso, fruto da

injustiça social e não teria coragem para reagir

a uma ordem de prisão.

Se o policial morre em combate com o marginal

não teve o cuidado que deveria ter, foi

inconseqüente ou queria aparecer, ser herói.

Se o policial passa a se proteger ou tem cuidado

necessário para não ser ferido é um covarde

que treme de medo ao confronto com os bandidos.

Se em tumulto a Polícia age com rigor para

manter a ordem pública, é truculenta, arbitrária

e violenta. Se não age com rigor é fraca e

sonolenta, ao passo que, estando presente na

hora do fato é cúmplice e, se ausente é omissa.

Se a Polícia revista um suspeito, desrespeita o

direito constitucional de liberdade do cidadão

e, se não revista é conivente com o crime ou

compactua com a marginalidade.

Quando a Polícia pratica excelentes ações

preventivas em prol da sociedade ou investigações

perfeitas, apenas está cumprindo a sua

obrigação e, quando tais ações não surtem os

efeitos desejados, não passa de um

Polícia incompetente e ineficiente.

Dos atos criminosos que geram as ações da

Polícia sempre restam os Direitos Humanos

para os marginais, de quando em vez para as

suas vítimas e nunca para os policiais.

Ser policial no Brasil com péssimos salários,

mais que sobreviver a miséria, é um exercício

de bravura, risco permanente sem o apoio moral

e institucional, sem reconhecimento estatal

ou da sociedade, padecendo do abandono,

da discriminação, da injustiça, da indignidade...

A trajetória do policial é realmente diferente

de todas, pois além de tudo, quando ele acerta

com os seus atos de bravura logo ninguém se

lembra, mas, quando erra ninguém se esquece.

Autor: Archimedes Marques (delegado de Policia
no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em Gestão
Estratégica de Segurança Pública pela UFS) -

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