domingo, 8 de maio de 2011

Maioria dos latrocínios ocorre perto de casa


Categoria: Polícia

Plínio Delphino

A maioria das vítimas de latrocínio na capital paulista foi assassinada em assaltos ocorridos em um raio de até 1,5 quilômetro de suas casas. O Jornal da Tarde analisou 19 dos 25 boletins de ocorrência de roubo seguido de morte do primeiro trimestre de 2011. Em 42% dos casos, as vítimas foram baleadas nesse raio de distância.

Para especialistas, um dos motivos é a perda da atenção do cidadão quando está perto da residência.

Oito desses crimes ocorreram em até 1,4 km das moradias das vítimas. “Quando se chega ou sai de casa a sensação é de relaxamento. Sem perceber o cidadão já projeta o pensamento em sua residência e tem uma sensação de relaxamento, de estar protegido em casa. Verificou-se o mesmo com acidentes de trânsito”, disse o coronel José Vicente da Silva, especialista em segurança pública.

Em até 3 quilômetros de distância das casas das vítimas o número de latrocínios chega a 57,89%.

Todas as vítimas assassinadas em assaltos na capital foram baleadas. Apenas duas eram mulheres. Isabel Maria Lopes, de 51 anos, morta em tentativa de roubo de carro na região do Morumbi, zona sul, e Anísia Ravagnani, de 72, assassinada dentro de casa por ladrões na Casa Verde.

“O que posso falar disso? Sei que nenhum assistente social bateu à minha porta até agora”, revoltou-se o marido da vítima, Pedro Rossatti, de 72.

Sete dos 19 casos verificados pelo JT ocorreram durante roubos de veículos. Cinco mortes foram no local de trabalho da vítima, quatro em saídas de banco, duas em residência e uma a transeunte. A zona leste lidera os casos de latrocínio (8), seguida pela sul (7), norte (2), centro e oeste (1 em cada região).

O estudante de Letras e projetista Carlos Eduardo de Sousa Garcia, de 24 anos, tentou evitar que bandidos entrassem em sua casa e conseguiu dissuadi-los. Mas, depois de bater o portão para se livrar dos criminosos, foi encurralado por um dos ladrões, de 17 anos, que voltou para matá-lo.

Cadu, como era conhecido, aprendeu alemão sozinho, estudava violino e trabalhava em projetos de ar-condicionado com o pai. Sua morte, porém, não entrou para as estatísticas de latrocínio divulgadas pela Secretaria da Segurança.

A morte do estudante da Escola Superior de Propaganda e Marketing Nicholas Marins do Prado, de 20 anos, na Vila Mariana, também não faz parte dos latrocínios divulgados. Um ladrão o matou para roubar seu carro.

O comerciante José Arteiro Morais, morto em roubo a sua pizzaria, é outro caso deixado de fora da lista oficial.

A SSP anunciou 22 casos no 1º trimestre. O JT contou 25 latrocínios.

Outro lado

A Secretaria da Segurança Pública explicou, em nota, como ocorre o trâmite de atualização dos casos. “As estatísticas criminais recebem rotineiramente alterações, procedidas a pedido de autoridades policiais, quando estas, no curso de investigações, percebem mudança na natureza de ocorrências criminais anteriormente informadas à Secretaria da Segurança Pública (SSP)”.

Segundo o comunicado, a SSP afirma que a divulgação mensal das estatísticas de criminalidade resultaria “um natural aumento das atualizações, em consequência da redução do prazo para comunicação das ocorrências à SSP.”

Porém, os três casos a seguir não entraram na estatística divulgada dia 15 de abril:

1 – A morte do estudante Nicholas Marins do Prado ocorreu em 4 de março. Foi registrada como roubo. Baleado, o rapaz morreu horas depois da elaboração do boletim de ocorrência.

2 – Carlos Eduardo Garcia foi morto em tentativa de assalto em 8 de março. O crime foi registrado como tentativa de roubo e tentativa de homicídio. Uma semana depois, três dos quatro ladrões foram presos.

3 – José Arteiro Morais, de 43 anos, foi baleado ao se negar a dar dinheiro a um bandido. O caso foi registrado em 2 de março como latrocínio.

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