São Paulo – A conscientização da criança sobre o perigo das armas está entre os objetivos da campanha de “desarmamento” infantil lançada hoje (11) em dois bairros da região sul da capital paulista pelo Instituto Sou da Paz. Até sexta-feira (15), as crianças do Jardim Ângela e do Jardim São Luiz podem trocar qualquer arma de brinquedo ou jogos de videogame com temas de violência por revistas de histórias em quadrinhos.
A troca pode ser feita em três bases da Polícia Militar (PM) ou em dois postos da Guarda Civil Metropolitana (GCM) dos bairros. Cerca de 150 escolas também estão recolhendo as armas de brinquedo e entregando os gibis, junto com folhetos informativos que incentivam o desarmamento de adultos.
“É importantíssimo que as crianças entendam o perigo das armas”, afirmou a coordenadora de controle de armas do Instituto Sou da Paz, Alice Ribeiro, umas das idealizadoras da campanha. “Elas se tornam embaixadoras do desarmamento e levam informação para suas casas.”
Essa informação, segundo Alice Ribeiro, pode ser o início de um processo mais amplo de desarmamento da população. Em julho, o Sou da Paz fará uma campanha pelo desarmamento dos habitantes dos dois bairros e espera que o trabalho feito com as crianças influencie o comportamento dos adultos.
Em 1996, o Jardim Ângela foi considerado um dos locais mais violentos do mundo pela Organização das Nações Unidas (ONU). Desde então, a polícia, o governo e a comunidade se mobilizaram para diminuir os índice de criminalidade na região.
Em dez anos, taxa de homicídios do Jardim Ângela caiu 83% e a do Jardim São Luiz, 77%. Mesmo assim, os dois locais continuam registrando mais mortes violentas que a média da cidade.
Para o tenente da PM Cristiano Cardoso, a campanha de “desarmamento” infantil pode colaborar para uma queda maior desses índices. Ele afirmou que a população dos bairros, assim como em todo o país, está fragilizada com a morte das 12 crianças em uma escola do Rio de Janeiro. Com a tragédia, o desarmamento voltou às discussões e mais pessoas estão dispostas a entregar suas armas.
Rosângela Isidoro Jesus, de 31 anos, disse não ter armas em casa, mas está incentivando o filho a participar da campanha. Allan Jesus Maia tem 7 anos e gosta de videogame. Esteve com a mãe na base da PM do Jardim Ângela e prometeu entregar os jogos violentos que tem em sua casa. “Hoje mesmo vou voltar como o jogo”, prometeu.
“Nunca deixei ele brincar com armas de brinquedo, mas o videogame é mais difícil de controlar”, complementou a mão do garoto. “Depois daquela tragédia que aconteceu no Rio, a gente fica mais preocupada. Vou fazer ele [Allan] trazer o jogo para que aprenda.”
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