O coldre é uma das principais peças do cinto de guarnição do policial, e possui uma função operacional especialíssima, seja no momento da retenção do armamento com respectivo travamento, durante o saque ou no recoldreamento deste, durante o momento da ação policial.
Encontramos no mercado uma variedade muito grande destinado ao trabalho policial, seja no formato, tamanho, tipo de material, funcionalidade, ergonometria, durabilidade, robustez, entre outros. Desta forma, guardado a especificidade do trabalho desenvolvido pelas diversas corporações policiais, se faz necessário o desenvolvimento de um estudo mais detalhado a respeito das características do trabalho operacional desenvolvido, bem como levar-se em conta o tipo e modelo do armamento de porte, e somente depois chegar a uma especificação das características técnicas.
Outro ponto de extrema relevância está na observância da doutrina adotada pela corporação policial, no que diz respeito ao trato com Uso Progressivo da Força, e mais especificamente no momento da lida com a arma no coldre ou fora dele, ou ainda na transposição deste para outro equipamento, como por exemplo, a tonfa, o espagidor ou o taser.
O tempo de vida útil do coldre é outro ponto a ser considerado para a escolha deste, pois encontramos uma diferença muito grande de qualidade do material e durabilidade que em alguns casos chega mais de cinco vezes o tempo de uso, e, portanto, muito embora possa ser mais oneroso para o momento da tomada de decisão de escolha da aquisição do produto pela corporação policial, no entanto, com vida útil, bem superior aos de menor qualidade.
Ítens como, qualidade, robustez, durabilidade e padronização são fundamentais a serem observados para a adoção de coldres destinados ao uso policial nas corporações policiais, pois ao contrário, além de poder comprometer a qualidade do trabalho policial, também atenta contra a segurança individual, bem como dos demais componentes da equipe.
Durante a prática como docente nas disciplinas de armamento e equipamento; tiro policial defensivo; e Uso Progressivo da Força, na PMGO e na FORÇA NACIONAL (e portanto, a várias corporações PM/BM do país), ou como membro técnico em comissões responsável pela emissão de pareceres técnicos para avaliação de equipamentos, como o coldre policial, temos feito análises de algumas ocorrências e relatos, no que diz respeito à ineficiência dos modelos de coldres adotados pelas corporações para o uso do armamento de porte (pistola e/ou revólver).
Foi objeto de estudo realizado por este oficial, o relato de um disparo acidental com arma de fogo (revólver) que causou ferimento grave no policial militar durante o desembarque da viatura no momento do atendimento de uma ocorrência, e após apurado concluiu-se que fora motivado por falha do coldre adotado naquela época pela Corporação (PMGO) que mesmo estando travado no momento do desembarque permitiu que a arma se soltasse e fosse ao solo provocando disparo que acabou por atingir o policial que o portava.
Também, surgiram outros registros de ocorrência que levaram a perda do carregador (pistola) e até mesmo do próprio armamento por parte de policiais durante patrulhamentos, nas modalidades em motocicleta e a cavalo, apontando para falhas no coldre provando ser incompatível com o armamento, e ainda demonstrando ser ineficiente e inseguro para o uso em serviço operacional.
Acredito que tais fatos ocorram devido a falta de um estudo mais específico até aquele momento, visando a atualização e adequação da especificação do Edital de compra de coldre, capaz de dar solução aos problemas apresentados quanto ao coldre em uso na corporação. Diante do quadro apresentado levanto algumas considerações, emitindo as seguintes análises, sugestões e conclusões a cerca do tema.
Vamos para a conceituação
Coldre é um acessório indispensável à atividade policial militar devido à previsão do porte de arma como equipamento defensivo e ostensivo destinado a defesa individual voltado à atividade de policiamento, mantendo-a junto do corpo e em condições de pronto uso, mesmo que travado, de modo a permitir que o policial fique com as mãos livres para outras funções, ou permita transposição para utilização de outro tipo de equipamento, mais adequado a cada quadro, como por exemplo, a tonfa, espagidor, algema, ou taser, entre outros.
Adequação:
Coldre X Arma de porte X Tipo de policiamento X Doutrina de uso.
O comentário que se segue não tem por pretensão esgotar o assunto por entender que deve existir um estudo específico em torno do tema, mas de chamar a atenção aos policiais profissionais de segurança pública, a aos setores competentes pela escolha e aquisição para a urgência de se aprofundar na realização de tal estudo, bem como a importância de se trocar experiências com as diversas co-irmãs com o fito de se enriquecer o trabalho.
No meio policial militar, em especial ouvindo as diversas opiniões dos operadores da atividade fim, voltado ao serviço operacional é notório que não existe ponto passivo com relação a qual coldre é o ideal, capaz de atender todos as exigências quanto as diversas situações e modalidade de policiamento desenvolvidas pelas corporações co-irmãs do país.
Se por um lado é de extrema relevância considerarmos as diferenças das especificidades quanto as modalidades de policiamento (policiamento convencional e especializado), e o seu regionalismo, por outro lado gera conseqüências, quanto a maior ou menor exigência dos equipamentos utilizados no trabalho policial, em especial, o coldre.
Também, julgamos de grande importância o quesito padronização do armamento (de porte) na utilização no trabalho policial, para que a partir daí, possa ser selecionado o coldre mais adequado para o armamento.
Aponto como um dos principais obstáculos encontrados por algumas corporações policiais está no excesso de modelos de armas de porte dificultando a adoção de um modelo de coldre que atenda toda a demanda de armamento. Agrava-se o quadro quando acrescenta-se outros modelos de armamentos utilizados no serviço operacional oriundos do Poder Judiciário, ou de propriedade particular do policial.
Outro ponto a ser considerado está na adoção da doutrina do emprego do armamento de porte associando-o ao coldre, em sintonia ao uso dos demais apetrechos e equipamentos, como por exemplo o taser, o espagidor, a tonfa, a algema, a lanterna, os carregadores, colete balístico, entre outros. De tal forma que haja eficiência no momento do emprego do coldre.
Uma vez definido a modalidade de policiamento, as características da regionalidade local, a padronização do armamento, a sintonia com os demais equipamentos, e a adoção de uma doutrina eficiente para a utilização em conjunto (arma/coldre/equipamentos) é que se passa ao estudo técnico mais aprofundado com vistas a escolha do modelo de coldre mais adequado a ser adquirido e utilizado no serviço operacional de determinada corporação policial.
Da necessidade de adoção de coldres adequados ao armamento e o serviço operacional:
A maior justificativa para a adoção de coldres adequados ao serviço e ao tipo de arma utilizada na Corporação está ligada diretamente aos elevados índices de acidentes e a ineficiência destes, bem como o risco eminente dos policiais militares estarem correndo, caso haja a necessidade de seu emprego emergencial utilizando-se do saque rápido quando numa ameaça de agressão eminente.
Desta forma, também fica prejudicado o recoldreamento e o trancamento objetivando a transposição de equipamentos para a aplicação do uso escalonado da força policial previsto na doutrina operacional existente em várias corporações, a exemplo do Procedimento Operacional Padrão (POP) adotada na PMGO. Ou ainda, situações já ocorridas de perda do armamento, e do carregador de pistola devido à pressão indevida exercida do coldre sob o retém do carregador acarretando sua perda.
Todos estes fatores, ainda são agravados quando o policial militar utiliza o coldre destinado, por exemplo ao revólver, para a pistola e vice-versa.
Do saque da Arma:
Quando o saque de uma arma for realizado por um policial em curto espaço de tempo e numa situação de necessidade iminente do uso da força letal em legítima defesa da vida, é de fundamental importância além de se contar com um bom equipamento, também em especial o aspecto da doutrina de treinamento adotado que didaticamente divido em quatro etapas:
1) A mão fraca ficará retida na fivela do cinto de guarnição (evitando-se passar pela linha de tiro do cano) e, simultaneamente a mão forte empunha a arma de cima para baixo posicionando-se a mão em “L” (procura-se um encaixe a partir de um bom envolvimento e alinhamento da mão X Cabo da arma ainda no coldre). O olhar é mantido em direção ao risco em potencial e o polegar da mão forte em cima da presilha de trancamento do coldre destrancando-a;
2) Uma vez empunhada e destrancada a presilha de segurança com o polegar da mão forte o policial remove a arma do coldre mantendo-a na posição vertical, ainda alinhada até o ponto limite da saída do cano da arma;
3) A mão de apoio sai da fivela e desloca-se até a mão forte realizando a empunhadura dupla voltando-se o cano para a direção do risco na posição de “Pronto Retido lateral”;
4) Desloca-se da posição de pronto retido lateral em alinhamento retilíneo com a ameaça para a “Pronto” ou Pronto Baixo”, ou ainda permanecer na posição de pronto retido lateral de acordo com a necessidade da situação.
Pontos em geral a serem observados para a adoção de coldres nas corporações policiais militares
a) A matéria prima deve ser de boa qualidade de modo a garantir uma vida útil longa e segurança para o uso;
b) Ter um afastamento do cinto de guarnição para permitir a empunhadura correta para o saque rápido, de modo a possibilitar o uso do fardamento, jaqueta e/ou colete de proteção balística, bem como o recoldreamento da arma com apenas uma das mãos;
c) Deve propiciar proteção à arma, segurança no porte, conforto no uso prolongado e, principalmente, rapidez no saque;
d) Deve ter um sistema de trancamento eficiente, de modo a impedir um saque indevido por terceiros, inclusive no caso de luta corporal, e o mesmo tempo estar disponível para o policial sem dificuldades para o destrancamento para o saque rápido de modo a permitir ser realizado apenas com o polegar da mão que empunha, portanto a trava deverá estar no lado interno do coldre;
e) O coldre e a arma deverão estar sempre colocados no lado da mão forte do policial, e a arma pronta para o saque rápido e seguro, devendo haver previsão de percentual proporcional ao efetivo da corporação, tanto para o policial destro como o canhoto;
f) Sua estrutura deverá ser reforçada com material que evite a deformação para que o armamento se mantenha no mesmo local para o momento do saque e do recoldreamento. Um exemplo típico são os coldres cujo núcleo é chapeado (chapa moldada em aço e/ou Polímero) e forrado externamente em couro ou nylon que permita regulagem no caso de ajuste da arma de modelos e características similares;
g) Coldre com aba de proteção (fechado) deve ser evitado por prejudicar o saque rápido, porém pode ser recomendado para o uso em policiamento rural e/ou ambiental por possibilitar a proteção do armamento;
h) Coldre do tipo “Robocop” para coxa, seus principais pontos negativos são: restringe os movimentos do policial, seja na corrida ou na transposição de obstáculos, podendo gerar câimbras resultante do aperto das travas do coldre nas pernas sobre a artéria femoral; e ainda o coldre em tela exigir maior tempo para o saque rápido e o recoldreamento em relação ao coldre de cintura devido a maior distância de seu posicionamento até a posição de enquadramento (pronto), bem como considerado inapropriado para algumas modalidades de policiamento, como as do tipo em moto ou montado a cavalo, nestes casos, o centro de gravidade aliado ao movimento realizado no deslocamento poderá forçar a arma contra a trava de segurança, podendo gerar a perda do armamento. Porém, são considerados eficientes para a maioria de atividade de policiamento especializado, pois libera a parte alta para inclusão de um número maior de equipamentos do que os do efetivo convencional;
i) Deverá ainda ter como características do coldre em tela, de quando a arma estiver coldreada, o direcionamento do cano deverá estar paralelo ao lado da coxa e perpendicular em relação ao solo de forma que a cano esteja voltada a uma direção segura;
j) Deverá ter um limitador do ressalto do guarda mato responsável pela limitação do encaixe do armamento ao coldre possibilitando segurança e firmeza na empunhadura no momento do saque e o do recoldreamento;
k) Por fim, um coldre que permita a utilização de um maior número de modelos de armas de porte com o fito de tornar o custo/benefício de aquisição viável, principalmente para aquelas corporações que adotam um número expressivo de modelos de armas de porte para o seu efetivo operacional.
Tipos de travas de segurança p/ coldre policial (Segurança X Eficiência no saque rápido)
a) Sem trava de segurança: Não possuem qualquer dispositivo de segurança que impeça a retirada indesejada da arma.
Coldres abertos ou apenas com a tampa, sem a presilha de retenção superior. Por falta de segurança, são inadequados à atividade policial;
b) Com uma trava de segurança: Uma trava de segurança prevista para ser destravada com o polegar da empunhadura principal voltada para o lado interno do coldre;
c) Com mais de uma trava de segurança: Existem muitos modelos no mercado de coldres com mais de uma trava de segurança que por um lado aumenta a segurança quanto ao saque indesejado por terceiros, porém deve-se levar em consideração o grau de dificuldade submetida pelo policial no momento do saque rápido exigindo maior destreza e treinamento por parte do policial usuário.
Principais Fabricantes Nacionais
Existem alguns fabricantes nacionais de coldres que estão atentos a questão, realizando estudos e locando investimento com o objetivo de suprir as necessidades de aquisição de coldre de qualidade que boa parte das corporações policiais brasileiras passam, em especial as polícias militares.
Entre estas destaco a fabricante nacional Maynard’s, que deu um passo importante no que diz respeito a utilização de matéria prima, o Polímero de grande resistência e de boa qualidade, e que ao mesmo tempo atende ao grande número de modelos de armas de porte, por existir um dispositivo de troca do limitador do guarda mato, que por sua vez permite ao fazer sua troca para o modelo adequado de armas utilizar o mesmo coldre para vários armamentos. Está disponível no mercado, tanto o modelo convencional de cintura mais utilizado no efetivo convencional, quanto o modelo de perna adotado para o efetivo especializado. Este coldre está sendo adotado pela PMGO, Força Nacional e por outras Co-irmãs.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende o oficial em tela, que se faz necessário a realização de um estudo mais detalhado e com crivo técnico, em relação à indicação de um modelo de coldre X arma de porte X tipo de policiamento X doutrina de uso, que além de possuir todos os quesitos de qualidade, robustez, durabilidade, também atenda em especial o quesito adequação ao maior universo possível de armamento encontrados nas corporações policiais brasileiras, para que, em linhas gerais, o custo benefício venha atender as reais necessidades encontradas pelo homem de frente na atividade operacional.
* O TC Flecha é oficial da Polícia Militar de Goiás e possuem entre outros, o título de campeão brasileiro de tiro policial “Saque Rápido”, é especialista em tiro policial defensivo, instrutor nas disciplinas armamento e equipamento; método Giraldi; Uso Progressivo da Força, na PMGO; e instrutor da Força Nacional/SENASP.
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