(Archimedes Marques)
A polícia está dentre todas as instituições públicas como a mais exigida, a mais
observada pela população. A questão de ser o policial o real protetor do povo
e da ordem pública, o guardião das leis penais, faz com que a comunidade
acompanhe todos os seus passos e lhe cobre sempre e efetivamente, além do
destemor, ações condignas e leais provindas dos seus atos.
É bom frisar que quando os agentes encarregados de manter a lei e a ordem
descambam para a arbitrariedade e para o comportamento desregrado,
instalam inconscientemente o risco de instabilidade do Estado, periclitando
suas instituições.
Assim, se alguma margem de desvio no universo formal
compromete a
normalidade da rotina de funcionamento do Estado, os contextos de grave
disparidade entre desempenho ideal e real das polícias podem alcançar efeitos
devastadores de controle na dinâmica de legitimação da ordem pública.
Todos podem observar que o trabalho do policial é árduo, perigoso,
estressante e ineficiente financeiramente, por isso, exige prudência,
perseverança, amor a profissão e capacidade de concentração aguçada com
equilíbrio e razoabilidade nos seus atos para que não ocorram os irreparáveis
deslizes.
As ações e os atos vergonhosos e criminosos praticados por aquele cidadão
que se acha e se diz policia, mas que na verdade é falso policial, bandido
disfarçado de polícia, travestido de polícia, além de abrir chagas no seio da
instituição policial é, sem sombras de dúvidas, o mais sério e grave problema
existente no âmbito interno da nossa segurança pública.
Em verdade o travestido de polícia está na força pública para extorquir, roubar,
matar, prevaricar e sempre se proteger atrás do seu distintivo, fazendo dos
bons o seu escudo e dividindo com os honestos as críticas pelos seus atos
insanos.
Antes de ferir o patrimônio público ou particular, a corrupção policial degrada
os seus valores íntimos, desvirtua a sua nobre missão, relativiza o costume e
a cultura da sua própria moral e o pior, torna negativo o conceito público da
nossa instituição que sempre generaliza e põe todos os policiais na mesma
vala até mesmo como se fossemos componentes do submundo da sociedade.
Assim, o bom policial, o digno e leal policial, aquele que veste a camisa da
polícia, aquele que verdadeiramente se veste completo de polícia e disso
tem orgulho, paga perante o conceito depreciativo do nosso povo, pelos atos
insanos do falso policial, pelos atos criminosos do travestido de polícia.
É preciso pois, acabar com essa situação para expurgar constantemente
e sempre o incomodo falso policial do nosso meio, entretanto, para que
a depuração e a autodepuração sejam trilhadas fortemente, é necessário
principalmente, que se reformem as leis administrativas e penais em desfavor
desses infratores, transformando os seus respectivos procedimentos em atos
mais ágeis e menos burocráticos, aplicando-se punições rápidas e justas
quando das suas culpabilidades, sem esquecer que os bons policiais também
devem mirar as suas próprias fileiras, expondo e ajudando a purgar as feridas
causadas pelo travestido de polícia.
Noutro ponto crucial que atinge em cheio o verdadeiro policial, assistimos de
uma maneira ampla os nossos salários sendo sucateados e achatados em
quase todos os Estados da nação, enquanto a corrupção dos travestidos de
polícia continua tendo esta razão como causa principal dos seus insanos atos.
Assistimos igualmente ao longo dos tempos os nossos leais e bravos policiais
sempre desvalorizados e humilhados pelo poder público, até mesmo tendo
que residir com as suas famílias no mesmo ambiente dos fortes traficantes de
drogas ou bandidos outros que comandam as diversas áreas periféricas das
cidades.
A PEC 300 que busca dentre outros o piso salarial nacional, um salário digno
para a polícia se arrasta a passos de bicho-preguiça, sempre procrastinada,
sem solução adequada ou aprovação no Congresso e até com proposta de
inviabilização ou mesmo implosão de vez pelos mesmos deputados federais
que recentemente, mesmo a contragosto da população, em velocidade de
guepardo aumentaram estupidamente os seus próprios salários, é o exemplo
vivo de que o poder público parece pretender continuar com uma polícia fraca,
desvalorizada, desmotivada, desacreditada, submissa, esvaziada, humilhada,
falida e até corrupta.
Repensar esses conceitos é dever do Estado para resgatar a real razão do
que vem a ser polícia na pura expressão da palavra para propor o verdadeiro
bem estar da coletividade que clama por uma melhor segurança pública, uma
segurança pública de excelência que só pode ser alcançada com uma forte e
decente polícia.
Caso contrário, mobilizações nacionais serão inevitáveis trazendo o próprio mal
estar para a nação brasileira que já está saturada de tanta violência e aumento
de criminalidade em todo canto do país.
Autor: Archimedes Marques (Delegado de Policia no Estado de Sergipe.
Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Pública pela UFS) –
archimedesmarques@infonet.com.br - archimedes-marques@bol.com.br -
archimedesmelo@bol.com.br
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