quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Em busca de uma Polícia verdadeiramente cidadã














Vários fatores contribuem para o aumento desenfreado da

violência e criminalidade no nosso país que traduz a

crescente sensação de insegurança existente, contudo, o ponto

nefrálgico de cobrança do povo em geral, é sempre a Polícia.

Realmente parece ser a Polícia a única responsável pela segurança

da população, mas não é. Em verdade, apenas tem a instituição

policial a função mais árdua de todas, porque atua na prevenção e

na repressão ao crime, na garimpagem de criminosos e na execução

da lei penal, a fim de torná-la efetiva ao exigir o seu cumprimento

objetivando auxiliar a Justiça penal a solucionar os diversos conflitos

inerentes.

A nossa Carta Magna vigente estabelece que a segurança

pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de

todos, assim, como pode ser percebido, a chamada Constituição

cidadã, alicerçada no binômio direito e responsabilidade, embora

imputando ao Estado o encargo principal, chama a população

à co-participação para tão importante situação.

Atualmente, porém, é lugar comum a atribuição de culpa exclusiva

ao Estado, mais de perto à Polícia, pela situação vexatória na qual

nos encontramos. Fala-se sempre no direito à segurança, o que

é correto, mas nunca na responsabilidade de todos no que

tange ao tema. Aqui, mais uma vez, o pensamento liberal

parece ser reinante, pois o direito é alardeado, enquanto a

responsabilidade, esquecida.

Além da responsabilidade esquecida, para complicar ainda

mais a situação, o povo generaliza que a Polícia é ineficiente,

corrupta e corruptível, que todo policial é ignorante, arbitrário

e irresponsável, quando na verdade, de uma maneira

geral, tais entendimentos não passam de pensamentos ilógicos

e insensatos, pois a Polícia também evoluiu com o tempo, não

estagnou como continuam em teimar com tais concepções retrógradas.

A questão da violência policial de outrora que ultrapassaram

todos os limites dos direitos do cidadão quando da ditadura militar

que assolou o país por muito tempo, trouxe pechas marcantes e

desagradáveis para a Polícia atual, pois daí nasceu o estigma

da expressão polícia-repressão que foi passando de geração até

os nossos dias. Repressão esta que não era em sentido de

reprimir o crime e sim como sinônimo das atrocidades que

ocorriam nos porões dos departamentos policiais, através das

práticas de tortura e até desaparecimento de opositores ao

regime do governo ditatorial. Pessoas não criminosas, e sim

revoltosas, quedaram violentadas nos seus direitos

fundamentais nas mãos da polícia ditatorial, da

polícia-repressora, que ao invés de ser o órgão de

conservação e garantidor da paz e da tranqüilidade pública,

na verdade era o braço humano utilizado pelo governo

nessas práticas covardes.

Esta espécie de tatuagem ideológica ainda não fora removida

da mentalidade do nosso povo. Diminuída, humilhada,

submetida, à polícia só restaram as críticas, as denúncias,

as desconfianças, os despojos, o lixo proveniente das duas

décadas do golpe militar.

O conjunto das regras que garante a segurança e a ordem

que rege os atributos da Polícia se confundem com

esses problemas citados e cria os preceitos verdadeiros

de que vivemos uma atividade desprezada, uma função

incompreendida, uma trajetória ilógica, uma vida atropelada

dentro de uma classe tão humilhada.

Repensar esses conceitos irracionais é resgatar o próprio

bem estar da coletividade. É lutar para que haja uma maior

união e interatividade entre o povo e a sua Polícia. É sonhar

que um dia haja a confiança do cidadão nas ações da

sua Polícia. É ter esperança que em breve a sociedade possa

ter a Polícia como sua amiga, como sua aliada no combate ao

crime e no cumprimento das leis.

A Polícia cidadã, acima de tudo, é a guardiã da sociedade

e da cidadania. No seu cotidiano o policial investiga, protege

o bem, combate o mal, gerencia crises, aconselha, dirime

conflitos, evita o crime, faz a paz e regula as relações sociais.

O policial é também o sustentáculo das leis penais e deve

seguir sempre o princípio primordial de jamais colocar as

conveniências da sua carreira acima da sua trajetória moral.

Entendemos então que a Polícia cidadã que nasceu com a atual

Constituição e ainda não se firmou apesar de mais de duas

décadas de existência e tentativa, é o elo de boas ações que

estabelece um sincronismo entre o seu labor direcionado

verdadeiramente a serviço da comunidade.

Concluímos assim, que remediando esses males elencados,

com a ajuda e a conscientização de todos os

segmentos possíveis, teremos então uma Polícia verdadeiramente

cidadã saída da teoria para a prática, que por certo alcançará os

seus objetivos com mais presença para oferecer uma

conseqüente melhor segurança pública para a sociedade.


*Delegado de Polícia no Estado de Sergipe, Pós-Graduado em Gestão

Estratégica de Segurança Pública pela UFS. archimedes-marques@bol.com.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário