Pesquisa feita pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, aponta que, para 92,4% dos policiais militares e civis, guardas civis municipais, bombeiros militares e agentes penitenciários, os baixos salários são fatores considerados os mais importantes para as dificuldades do trabalho das polícias. Participaram da pesquisa quase 65 mil profissionais de segurança.
A consulta "O que pensam os profissionais de segurança pública no Brasil" ouviu a opinião de policiais que frequentam o ambiente de Educação à Distância (EAD) na busca de aperfeiçoamento e valorização profissional. E visava a saber sobre o modelo ideal de polícia para o Brasil, a hierarquia e a disciplina em seu ambiente de trabalho, a importância do controle externo, a atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário e as situações de vitimização a que estão cotidianamente submetidos.
A falta de verbas para equipamentos e armas foi apontada por 84,8% dos entrevistados como "muito importante" para as dificuldades do trabalho das polícias, seguida por formação e treinamento deficientes (81,9%), contingente policial insuficiente (80,7%) e incapacidade das instituições policiais em identificar os potenciais de cada profissional e aproveitá-los (67,7%).
Também foram citados como empecilhos importantes ao trabalho: a pouca confiança da população nas instituições de segurança pública, a pouca confiança dos profissionais de segurança pública na população, a falta de participação da sociedade nas políticas de segurança, a desvalorização da perícia técnica e da produção de provas de boa qualidade que possam levar à condenação e a corrupção nas polícias.
Pesquisa mostra insatisfação de policiais com o trabalho
Pesquisa mostra insatisfação de policiais com o trabalho
SÃO PAULO - Pesquisa inédita realizada a pedido do Ministério da Justiça (MJ) deu voz aos policiais brasileiros e encontrou altos índices de insatisfação com o modelo de gestão da segurança nacional, além de números que revelam condições de trabalho preocupantes. Foram ouvidos 64.130 homens das polícias Civil e Militar, do Corpo de Bombeiros, da Guarda Civil e agentes do sistema penitenciário.
Um em cada cinco afirmou já ter sido torturado em serviço e mais da metade (53,9%) disse ter sofrido humilhações de superiores. Uma parcela ainda maior, 72,2%, reconheceu que há mais rigor com as questões internas - como exigir botas perfeitamente engraxadas - do que com fatores que afetam, de fato, a segurança pública. O estudo entrevistou os participantes com a aplicação de questionários virtuais entre abril e maio. Os pesquisadores, ligados ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, identificaram que 69,8% de cabos, praças, sargentos, guarda civis, delegados, agentes e oficiais querem mudanças no modelo institucional e, na avaliação dos autores, a origem das reivindicações está atrelada também à vitimização da profissão, mapeada de forma pioneira na enquete.
Um dos dados encontrados é que 20,5% sofreram tortura. Apesar do questionamento sobre a utilização dessa prática não ter contemplado só agressão física mas também tortura psicológica, a pesquisa ressalta que não pode ser desconsiderado que a violência é ainda um instrumento pedagógico nas instituições policiais. Os pesquisadores ressaltaram que o sofrimento mental pode ter inflacionado o porcentual de respostas afirmativas, no entanto, essa teoria é enfraquecida porque no mesmo questionário foi abordado quantos deles sofreram humilhação, o que seria só assédio verbal. Nesse caso, o índice encontrado foi muito maior: 53%.
Ponto de partida
Regina Mikki, diretora da Secretaria Nacional de Segurança Pública, ligada ao MJ, disse: "os dados encontrados servirão de ponto de partida para a criação de grupos de trabalho para aperfeiçoar a condição de trabalho das polícias".
O secretário-geral do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, acredita que os indicadores servem para sustentar o debate prático, e não só acadêmico, da necessidade de mudança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário