sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Racismo no Brasil


João Baptista Borges Pereira em seu artigo tem como ponto de partida de sua reflexão a seguinte indagação: O Brasil é um país racista? Nesse sentido ele elucida a ambiguidade do sim e do não. Ambiguidade essa que precisa ser entendida, explicada e superada, que constitui a condição elementar para encarar  de fato essa questão. Ele propõe quatro pares, de certo ponto dialético, para conduzir a discussão, a saber: colocar em oposição o racismo verdadeiro e racismo falso; o discurso e a prática social; o grupo racial e a cultura, e a raça e a classe social.
Colocado em aposição o racismo verdadeiro e o falso, ele expõe a dificuldade em enxergar e admitir o “micro” racismo quando no universo popular a referência de racismo foi à prática dos nazistas, o apartheid e a política interna e externa dos Estados Unidos da América. Avaliar as tensões étnicas nessa perspectiva, o racismo seria uma expressão muito forte para rotular o preconceito e a discriminação que permeiam as relações sociais no Brasil. Essa visão de racismo contemporizador tenta abafar o clamor das vítimas.
Essa situação nos conduz a pensar no discurso e a prática social, que nos revelará ou desvelará antes nos olhos um sistema de valores que inibe as manifestações negativas na avaliação do outro racial e também fomenta a apologia da igualdade e a harmonia racial. Nesse contexto ganha sentido a expressão de Florestan Fernandes “ter preconceito de ter preconceito”. Em pesquisa é comum que as pessoas de modo geral, brancas e negras, quando perguntadas se é racistas afirmarem que não, e quando pergunta se conhece alguém racista afirmam que sim, essa postura é de repassar a responsabilidade aos outros. Quando se avalia de mais perto esses discursos, se desvela as contradições que põem em cheque a cordialidade brasileira. O medo de reconhecer e encarar a questão do racismo é o que o mantém e o fortalece na sociedade. Para João Batista Borges Pereira: Esse sistema de valores não atua com a mesma eficiência no controle do comportamento real que se expressa no sistema de relações sociais concretas, que é a instancia, por excelência, da discriminação racial. Não há plena correspondência entre os níveis de discursos ou da atitude e da prática social. Mesmo com todo o colorido da retorica a fim passar que existe certa igualdade, na realidade, a população negra nesse país ainda sofre muitos todos os modos de discriminação e preconceito.
A matriz africana apesar das metamorfoses histórica marca fortemente nossa cultura constituindo traço de identidade. A política integracionista mesmo quando usa o referencial mais expressivo do povo negro, Zumbi dos Palmares, para evocar a harmonia dos povos brasileiros, o flagrante da realidade mostra a verdadeira face: o negro enquanto grupo racial, permanece cerceado em seus projetos de ascensão e participação sociais, contemplando de longe a sua cultura, ganhando cada vez mais status e prestígios, enquanto aguarda, lutando a sua maneira, que os pares sociais o reconheçam, também, como histórico e legitimo construtor da sociedade brasileira.
 A questão no Brasil é de tamanho absurdo, que é um grande erro apenas conceber um Brasil, mas muitos brasis dentro do Brasil. Porque apesar do povo negro ser majoritariamente e minoritariamente quando se figura as posições mais importantes, ou seja, estamos no terreno da economia, do financeiro, em fim, da renda, moradia, educação, lazer, cultura entre outros. Há um contraste absoluto, isso sinaliza que nossa realidade é seletora a partir de classe, e a questão racial também permeia essa relação.


  
 
Oséias Francisco da Silva
Especialista e Consultor em Segurança Pública
Filósofo
Psicanalista
Escritor
Twitter: @oseiasfilosofo
"A segurança é indivisível. Ou existe igual segurança para todos ou não há segurança para ninguém. ( ... ) A segurança de cada nação depende da segurança de todos os membros da comunidade humana."
 (Mikhail Gorbachev)

Nenhum comentário:

Postar um comentário